O volume diário de negociações de ETFs (Exchange Traded Fund) Globais disparou 118% em março deste ano, em comparação com fevereiro, segundo dados da B3.
O Volume Médio Diário Negociado (ADTV) em março atingiu R$ 77,7 milhões, um salto em relação aos R$ 35,5 milhões de fevereiro. No comparativo com março de 2024, o aumento foi de 84%.
As altas mais expressivas foram vistas em ETFs que lastreiam empresas e títulos americanos, e ocorreram após a divulgação de que o governo dos Estados Unidos iria implantar a nova política tarifária, o que se concretizou em abril. Os mercados anteciparam ao anúncio, o que levou à desvalorização das ações de empresas americanas e atraiu investidores.
Os ETFs Globais, também chamados de BDRs de ETFs, são fundos de investimentos negociados na Bolsa de Valores que replicam fundos internacionais. Com eles, é possível investir em mercados estrangeiros sem fazer operações fora do Brasil.
“Essa elevação pode indicar maior apetite ao risco por parte dos investidores, além de movimentos táticos frente à possível valorização dessas empresas estrangeiras, em meio a incertezas políticas”, analisa Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
Altas mais expressivas
De acordo com a B3, o ETF Global BEGU39, um fundo que busca acompanhar a variação do índice MSCI USA Extended ESG Focus (composto por ações de empresas americanas), teve o maior aumento financeiro no volume de negociação: R$ 23,3 milhões em março. Em fevereiro, o ADTV desse fundo era de R$ 2,6 milhões.
Os dados da B3 mostram também que o BIWM39, um fundo baseado no índice Russell 2000 (que mede a performance das menores empresas do índice Russell 3.000 e reflete os movimentos de cerca de 96% de todas as empresas listadas nos EUA), foi o segundo com maior alta no volume do ADTV. Ele passou de R$ 1,2 milhão em fevereiro para R$ 7 milhões em março.
Já o BQQW39, BDR de ETF baseado no Nasdaq- 100 (que inclui cem dos maiores títulos não financeiros listados no índice Nasdaq Stock Market), ocupa a terceira posição no ranking dos maiores aumentos de ADTV. Ele atingiu R$ 5,3 milhões em março, contra R$ 45 milhões em fevereiro.
“Esse fluxo faz parte de uma tendência maior de ajuste de portfólio internacional. ETFs são os principais instrumentos usados por investidores institucionais e individuais para realizar esses ajustes rapidamente”, explica Patzlaff.
Oportunidades em meio às incertezas
Os dados mostram que, diante das incertezas provocadas pela política de Donald Trump nos EUA, os investidores reavaliaram a exposição a setores da economia americana, o que impactou nas negociações deste ativo. “Nesse contexto, os ETFs Globais funcionam como instrumentos eficientes para uma exposição rápida a mercados ou setores específicos diante das mudanças provocadas por políticas comerciais agressivas”, avalia Patzlaff.
Para Bianca Vesdel Gonçalves da Cunha, gerente de produtos da B3, o aumento no ADTV dos ETFs Globais em março demonstra a relevância desses produtos no mercado financeiro. “Os ETFs Globais oferecem aos investidores uma forma eficiente de diversificação e proteção, refletindo a busca por alternativas robustas em um cenário volátil”, afirma.
Para o time de research da Investo, esse volume de negociações indica que os investidores locais estão cada vez mais atentos às oportunidades de diversificação global para suas carteiras. Na avaliação da equipe, o investidor brasileiro tem muito pouco do patrimônio em moeda forte, e os últimos anos reforçaram a importância de ter investimentos atrelados a economias mais avançadas.
